Shell e Basf fazem proposta, mas audiência termina sem acordo
Após quase três horas, terminou sem acordo audiência
realizada nesta quinta-feira (14) no Tribunal Superior do Trabalho (TST) entre
sindicatos de trabalhadores e a direção das empresas Shell e Basf. Eles
discutem o pagamento de cerca de R$ 1 bilhão a quase mil trabalhadores
contaminados em uma fábrica de pesticidas que pertenceu às duas empresas em
Paulínia, no interior de São Paulo. Segundo o Ministério Público do Trabalho,
trata-se do maior processo em andamento na Justiça do Trabalho.
As
empresas apresentaram uma proposta de acordo para o fim da ação judicial, e uma
nova reunião foi agendada para a próxima terça-feira (19) para apresentação de
contra-proposta e reunião entre as partes. O presidente do TST, João Oreste
Dalazen, designou duas novas datas para audiências sobre o caso, nos dias 28 de
fevereiro e 4 de março. Dalazen deixa o cargo no dia 5 de março.
“Adianto
desde já que, se não houver acordo [até 4 de março], eu apresentarei uma
proposta”, disse Dalazen, completando que quer deixar a questão resolvida antes
de sua saída.
A
ação coletiva, de autoria do Ministério Público do Trabalho, começou em 2007 e
pediu indenizações a trabalhadores contaminados pela fábrica de pesticidas
entre 1974 e 2002, quando a indústria foi desativada por ordem judicial. O MP
pediu que as multinacionais paguem atendimento médico a ex-trabalhadores e
dependentes, além de indenizações. Shell e Basf foram condenadas pelo Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, e recorreram ao TST, que tenta agora um
acordo.
Proposta das empresas
O advogado Pedro Abreu Dallari, que falou em nome de advogados e diretores jurídicos da Basf e da Shell, apresentou uma proposta que prevê três tópicos: cobertura de saúde vitalícia para ex-trabalhadores e dependentes, pagamento de indenização individual por danos morais e indenização por danos morais coletivos.
O advogado Pedro Abreu Dallari, que falou em nome de advogados e diretores jurídicos da Basf e da Shell, apresentou uma proposta que prevê três tópicos: cobertura de saúde vitalícia para ex-trabalhadores e dependentes, pagamento de indenização individual por danos morais e indenização por danos morais coletivos.
O
primeiro tópico, segundo Dallari, prevê que “as empresas assumam compromisso de
garantir tratamento de saúde por toda a vida dos beneficiários ou de seus
dependentes”. Para isso, seria criado um fundo com aporte inicial de R$ 50
milhões, que receberia mais dinheiro quando necessário. As partes nomeariam um
gestor e uma junta médica, formada por médicos das duas partes além de um
especialista independente, para definir casos controversos de atendimento.
A
segunda proposta é o pagamento de indenização individual por dano moral ou
material por grupo familiar no valor médio de R$ 120 mil, podendo chegar a R$
330 mil. O valor varia de acordo com a quantidade de dependentes e o tempo
trabalhado na empresa.
O
total de beneficiados chegaria a 884 trabalhadores e dependentes, número
inferior aos 1068 apresentados pelos sindicatos. “As empresas entenderam que
eles não se habilitaram em momento adequado e que não há evidência de que
tenham trabalhado no local”, informou Dallari. O valor total das investigações
individuais chegaria a R$ 52 milhões.
No
terceiro item, as empresas deixaram em aberto o valor a ser pago a título de de
indenização por danos morais coletivos. A sentença do TRT de Campinas estipulou
o valor de R$ 761 milhões. “As empresas não trouxeram número, mas estão abertas
a negociação. Entenderam que poderia prejudicar os dois primeiros itens, estão
abertas a discutir proposta de acordo por danos morais coletivos”, disse
Dallari.
Ao
final da proposta, Pedro Dallari apresentou uma alternativa ao atendimento
médico vitalício, que prevê o pagamento de uma indenização àqueles que não
quiserem o tratamento médico vitalício. Cada grupo familiar receberia o dobro
do valor definido para a indenização por dano moral individual. Com isso, as
famílias receberiam em média R$ 240 mil, chegando ao máximo de R$ 660 mil. Cada
família poderia optar pelo atendimento médico ou pela indenização em dobro.
Após
a apresentação da proposta, o presidente do TST fez um intervalo para ouvir
reservadamente as partes. No retorno, propôs a exclusão da proposta alternativa
da ata da audiência. Ambas as partes concordaram em retirar a proposta. “Na
experiência com o contato com trabalhadores, nem sempre eles têm a necessária
precaução para com futuras desventuras. Seduzidos por um valor que seria o
dobro hoje da indenização, muitos poderão optar por essa solução e, no futuro,
ter o dissabor de surgir uma doença”, afirmou Dalazen.
Opinião dos trabalhadores
O advogado Mauro Mendes, que falou em nome da Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq), pediu que fosse detalhado melhor a atuação da junta médica. Para ele, os trabalhadores devem receber atendimento total, não apenas para fatos relacionados à contaminação.
O advogado Mauro Mendes, que falou em nome da Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas (Atesq), pediu que fosse detalhado melhor a atuação da junta médica. Para ele, os trabalhadores devem receber atendimento total, não apenas para fatos relacionados à contaminação.
“O
que vem a ser suscitado pelos autores é o grau de dúvida que pode gerar aquilo
que evidentemente é óbvio. [...] Há expectativa de uma assistência médica
plena”, afirmou Mendes.
Durante
a audiência, as empresas e sindicatos de trabalhadores informaram que há ainda
outras 74 ações individuais além da ação coletiva. Em janeiro, o Tribunal
Regional do Trabalho (TRT) de Campinas deu 90 dias para que os autores de ações
individuais aderissem às ações coletivas.
O
procurador do Ministério Público do Trabalho, Luís Camargo, citou que o dano
moral coletivo também deve levar em conta o meio ambiente e criticou a ausência
da apresentação de um valor.
“Houve
um dano ambiental enorme. E não estamos tratando somente de trabalhadores que
adoeceram, mas que perderam a capacidade laborativa. É preciso recuperação da
capacidade laborativa e do meio ambiente, absolutamente devastado”, disse
Camargo.
Fonte : Paulínia Extra
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